Entenda porque o Estudiantes, adversário do Botafogo na Libertadores, não virou SAF Argentina ainda não adotou o modelo que virou sucesso no Brasil

O Estudiantes de La Plata, um dos clubes mais tradicionais da Argentina, anunciou a chegada de um investimento de R$ 500 milhões vindo do empresário norte-americano Foster Gillett, ex-CEO do Liverpool. O montante será direcionado ao fortalecimento das equipes masculina e feminina, além de obras de modernização no centro de treinamento profissional, na base e no estádio UNO, em La Plata.
Apesar da injeção de capital, o Estudiantes não é uma Sociedade Anônima de Futebol (SAF) — modelo empresarial que sequer existe no país.
Argentina ainda resiste às SAFs
Diferente do cenário brasileiro, onde a legislação permite a transformação dos clubes em SAFs, a Argentina ainda mantém o modelo de associação civil. Nesse formato, semelhante aos clubes sociais, os sócios têm voz ativa e votam em decisões importantes, como a escolha de presidentes.
A proposta de implementação das chamadas Sociedades Anônimas Desportivas (SADs) é motivo de intensos debates. Enquanto a Associação do Futebol Argentino (AFA) se opõe veementemente à ideia, o presidente Javier Milei é um defensor declarado do novo modelo. Em 2023, ele chegou a editar um decreto para permitir a entrada das SADs no futebol argentino, mas a medida foi suspensa pela Justiça em setembro. Um mês depois, como forma de retaliação, o governo retirou benefícios fiscais concedidos aos clubes.
A resistência ao modelo empresarial é ainda mais forte entre os gigantes do futebol argentino, como River Plate e Boca Juniors, cujos torcedores participam ativamente das decisões dos clubes e temem perder esse poder com a entrada de investidores.
Botafogo inspira defensores das SADs
Em meio à discussão sobre a profissionalização empresarial dos clubes, o governo argentino tem usado o exemplo do Botafogo para justificar sua posição. Campeão da Copa Libertadores no ano passado, o clube carioca virou referência para Milei e sua equipe.
“O caso do Botafogo é incrível. Há três anos, estava falido, na Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro. Um empresário americano (John Textor) comprou 90% e investiu US$ 70 milhões (R$ 401 mi). Agora, são campeões da Copa Libertadores”, disse Javier Lanari, subsecretário de imprensa de Milei, ao comentar a conquista do clube brasileiro.
A fala veio logo após a final da Libertadores, vencida pelo Botafogo em pleno Monumental de Núñez, e foi acompanhada de uma provocação direta aos críticos das SAFs: “Nada mais deprimente do que assistir à final da Libertadores entre duas equipes brasileiras pela televisão. E, também, na Argentina. Eu completo o combo. Péssimo dia para ser anti-SAD”, disparou Lanari.