Antes de mais nada, o Clube do Remo protagonizou, em 2025, uma das histórias mais improváveis — e reveladoras — do futebol brasileiro fora de campo. O Leão alcançou o terceiro maior crescimento de seguidores no mundo ao longo do ano.
Mais do que isso, foi o que mais cresceu percentualmente em relação à própria base, superando gigantes como Flamengo, Milan e Barcelona em ritmo de expansão digital. O dado chama atenção não apenas pelo ranking, mas pelo que ele confronta.
O clube paraense é um clube centenário, de torcida massiva, mas distante da Série A do Campeonato Brasileiro desde 1994. Não se apoia em transmissões internacionais, estrelas globais ou títulos recentes.
Ainda assim, conseguiu ocupar o mesmo gráfico de engajamento que marcas consolidadas do futebol europeu e sul-americano. A leitura mais simples — e equivocada — atribuiria o fenômeno a uma exceção estatística. A análise mais cuidadosa aponta para algo estrutural.
Parte da explicação passa pela transformação do acesso à internet no país. Dados do IBGE indicam que 81% dos domicílios da Região Norte já contam com conexão, número que desmonta a ideia de um Brasil digitalmente restrito ao Sudeste.
A presença online deixou de ser privilégio geográfico e passou a refletir pertencimento, identidade e capacidade de mobilização. No caso do Remo, o digital funcionou como extensão natural de uma torcida historicamente engajada, mas pouco visível nos centros de decisão.
O crescimento também dialoga como o torcedor brasileiro consome futebol hoje. A aderência ao ambiente digital não depende mais apenas de desempenho esportiva, mas de narrativa, linguagem e reconhecimento simbólico.
O Remo, por exemplo, passou a ocupar esse espaço com autenticidade, ativando sua base, dialogando com a cultura local e transformando o sentimento de pertencimento em presença mensurável no futebol.
Quando o mapa do futebol muda
Antes de tudo, o impacto do caso vai além do clube paraense. Ele expõe os limites de uma visão centralizada do futebol brasileiro, que costuma associar relevância a títulos recentes ou participação na elite nacional.
Ao surgir ao lado de Flamengo, Milan e Barcelona em métricas globais, o Remo não reivindica igualdade esportiva, mas visibilidade. Mostra que o Brasil do futebol é mais amplo, mais diverso e mais conectado do que sugerem velhos mapas de poder.
O episódio também aponta para um futuro em que clubes fora do eixo tradicional podem ampliar sua influência sem depender exclusivamente de resultados de campo. O Remo não voltou à Série A, mas voltou ao centro da conversa. E, ao fazê-lo, lembrou que o futebol brasileiro continua sendo, antes de tudo, um fenômeno social — agora plenamente digital.




