Ryan Garcia encerra 2025 do jeito que sabe: no meio da polêmica. Quando o boxe parecia disposto a lhe oferecer um raro momento de silêncio — após a derrota para Rolando Romero, uma lesão na mão e um histórico recente que manchou sua credibilidade —, Garcia escolheu o caminho oposto. Voltou ao noticiário não pelo que fez no ringue, mas pelo barulho que produz fora dele.
A marcação apressada de uma disputa de título contra Mario Barrios, com pouco mais de dois meses de preparação, soa menos como planejamento e mais como urgência. Urgência por relevância, por narrativa, por provar algo a alguém — talvez a si mesmo. No boxe, esse tipo de pressa costuma cobrar juros altos.
E, como se fosse inevitável, Devin Haney reapareceu na conversa. Um nome que Ryan parece incapaz de deixar no passado. Garcia fala, revisita, expõe bastidores e tenta reescrever a própria história, mesmo quando os fatos já estão registrados. No boxe moderno, a memória é curta, mas a internet não esquece.
Ryan Garcia e a luta pela disciplina
O problema é que talento nunca foi a dúvida. Ryan Garcia tem mãos rápidas, carisma e potencial de estrela. A questão sempre foi outra: disciplina, constância e a capacidade de deixar que o ringue fale mais alto que o Instagram. Quando o discurso ocupa mais espaço que o desempenho, algo está fora de lugar.
Garcia vive entre o pugilista promissor e o personagem autocriado. Entre a luta real e o espetáculo midiático. E enquanto esse conflito existir, cada anúncio soará mais como distração do que como reconstrução.
Um título pode até vir. Mas títulos não apagam ruídos, não limpam narrativas tortas nem substituem maturidade esportiva. No boxe, a verdade costuma aparecer sem filtro — geralmente quando não há mais ninguém para culpar do outro lado do ringue. Ryan Garcia continua sendo assunto. Resta saber até quando ele conseguirá ser também resposta.




