Vaidade: o adversário invisível do esporte de combate

Vaidade no esporte de combate pode ser um inimigo silencioso. Rafael Luna analisa como a soberba derruba carreiras., fecha portas e cobra um preço alto dentro e fora do ringue. %

Mundo com muitas vaidades na luta

Por Rafael Luna | RTI Esporte

A experiência que revela padrões

São 18 anos de jornalismo. Anos de viagens, bastidores, entrevistas e convivência com alguns dos maiores nomes do esporte de combate no Brasil e no mundo. Campeões, lendas, promessas, personagens. Ao longo desse caminho, uma coisa se repete com precisão quase cruel: o roteiro da vaidade.

No início, o atleta chega humilde. Cumprimenta todo mundo. Escuta, aprende, pede espaço e agradece cada oportunidade. Entretanto, basta uma sequência de vitórias, um holofote a mais, alguns seguidores extras e um microfone estendido para que algo mude. De repente, o mesmo sujeito que ontem pedia conselhos hoje distribui desprezo. Assim, o respeito passa a ser tratado como conveniência.

Vitória não é o problema

É importante deixar claro: o problema nunca foi vencer. Pelo contrário, vencer faz parte do jogo. O erro está no que muitos fazem depois da vitória.

Dentro do meio marcial, a vaidade age de forma silenciosa, porém corrosiva. Ela costuma se disfarçar de confiança, de “personalidade forte” ou até de marketing pessoal. Na prática, contudo, é soberba. E a soberba, como se sabe, quase sempre cobra um preço alto — dentro e fora do ringue.

Quando o bastidor fecha as portas

Ao longo da carreira, já vi atletas esquecerem quem os ajudou no início. Além disso, presenciei portas se fecharem não por derrotas, mas por comportamento. Em muitos casos, carreiras promissoras simplesmente escorreram pelo ralo porque alguém confundiu popularidade com grandeza. No esporte de combate, o corpo até fala, mas o caráter grita.

Outro ponto delicado precisa ser destacado. Há quem use o meio de convivência apenas quando precisa. Pessoas que aparecem por interesse, tratam relações como degraus e medem o valor do outro pelo alcance, pelo cargo ou pelo benefício imediato. Isso não é profissionalismo. É oportunismo. E, no longo prazo, esse tipo de postura sempre fica evidente.

O que diferencia os verdadeiramente grandes

Por outro lado, os verdadeiramente grandes — e esses tive o privilégio de conhecer — compartilham algo essencial: respeito. Respeito ao processo, à história e, sobretudo, às pessoas. Eles não se colocam acima do esporte. Entendem, portanto, que a luta é maior do que o ego. Sabem que o cinturão passa, mas o nome fica.

O tempo não falha

O atleta pode até enganar o público por um tempo. Pode performar um personagem, ganhar likes, manchetes e convites. Ainda assim, o bastidor não mente. E o tempo, esse sim, é implacável.

No fim das contas, a vaidade não derruba apenas adversários. Ela derruba trajetórias.
E, no esporte de combate, cair por soberba dói muito mais do que qualquer nocaute.

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